terça-feira, dezembro 05, 2006

Nova moralidade / New Morality

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Some aquaintances here in Rio think that Leonardo Boff is 'chato' - boring; and there is something of a Jeremiah about him I admit - but so many times he is simply spot-on, and for me this is one of them.

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I read it last night in the Jornal do Brasil - which used to be the liberal paper and still is I guess but they have changed to a tabloid format. This has (incredibly to me) won praise and prizes from the propaganda pundits. I now find it next to impossible to read over a beer or on a bus; and they have a website but the website is like the paper, impossible to find anything in it ... so I have lifted the article from another source.

Please excuse my translation ... it will probably take me a week or so to complete ...

Quarta-feira 11 novembro 2006
Urgência de uma nova moralidade
Leonardo Boff
 Thursday November 11 2006
Urgent need for a new morality
Leonardo Boff
Os relatórios sombrios sobre o estado da Terra e sobre o futuro desalentador da espécie humana nos sugerem a urgência de uma nova moralidade. Mais e mais nos damos conta de que esta situação dramática se prende à forma insensata e até imoral com a qual nos relacionamos com a natureza, depredando-a sem remorços através um modo de produção que faz do lucro sua única lei e religião. Somente agora quando a alarme ecológico chegou às páginas de economia é que vem sendo tomado a sério pelos governos e grandes instituições internacionais. A crise não vem; já estamos dentro dela, atingindo milhões de pessoas. Al Gore em seu documentário Verdade inconveniente nos forneceu os dados. Ou investimos já agora na dimuição dos gazes de efeito estufa ou então nos próximos anos teremos que aplicar mais de um trilhão de dólares anuais para estabilizar o aquecimento a dois graus acima do atual nivel. Ou então vamos ao encontro de catástrofes como nunca vistas antes. The dark news about the state of the Earth and the disheartening future of the human race suggests an urgent need for a new morality. More and more we take note that this dramatic situation takes its senseless and even immoral shape from the way we relate to nature, devastation without remorse in the manner of production which makes profit the only law and the only religion. It is only now that the ecological alarm has reached the economic pages and is being taken seriously by governments and large international institutions. The crisis is not coming; we are already in the middle of it, it is touching millions of people. In his documentary, An Inconvenient Truth, Al Gore gave us the facts. Either invest now in reducing greenhouse gases or we will shortly have to invest more than a trillion dollars annually to stabilize heating at two degrees above the current level. Either this or we willo encounter catastrophes such as we have never seen.
Bem analisadas, estas medidas são apenas paliativas. Partem de um pressuposto equivocado: pensam que limando os dentes do lobo diminuinos a sua ferocidade. Quer dizer, podemos continuar com o mesmo paradigma de produção e consumo, apenas diminuindo a dosagem. Esse paradigma nos condenará a todos porque se baseia numa metafísica falsa, a de que podemos dispôr dos recursos a nosso bel prazer e que nossa relação com a natureza é apenas de ordem utilitária. Entendemo-nos for a acima e contra a natureza. Ela se vingará, talvez nos expulsando definitivamente de seu seio como se expulsa uma célula cancerígena. Looked at cldearly, these remedies are nothing but palliatives. Coming from an equivocal premise: they think that cleaning the wolf's teeth reduces his ferocity. That is to say, we can continue with the same paradigm of production and consumption, simply reducing the dose. This paradigm will condemn us all because it is founded in a false metaphysic, which lets us dispose of resources as we wish and that our relationship with nature is nothing but utility.
Por isso, de pouco valem soluções técnico-científicas fundadas naquela metafísica. Precisamos, antes, de uma equação moral que mude os fins e não apenas os meios de nossa civilização. Eis alguns pontos para a nova moralidade. 
Em primeiro lugar, devemos tomar a sério o princípio de precaução e de cuidado. Ou cuidamos do que restou da natureza e regeneramos o que temos devastado ou então nosso tipo de sociedade terá dias contados. Ademais filosoficamente o cuidado é a pre-condição para que surja qualquer ser e é o norteador antecipado de toda ação. In the first place, we must take seriously the principle of precaution and care. Either we care for what remains of nature and regenerate what we have already devastated or the days of our type of society are numbered. Ademais filosoficamente o cuidado é a pre-condição para que surja qualquer ser e é o norteador antecipado de toda ação.
Em segundo lugar, importa dar centralidade ao afeto, à compaixão, ao coração e à piedade, como princípios morais. Isso nos ensinam o budismo no Oriente e Schopenhauer no Ocidente. Ambos afirmam:" não faças mal a nenhum ser, antes esforça-te em ajudar a todos o mais que podes". Second,
Em terceiro lugar, urge resgatar o repeito e a veneração diante de cada ser porque representam um valor em si mesmo. Como o formulou Albert Schweitzer:"ética é a ilimitada veneração diante da vida e o respeito diante de cada ser". Third,
Em quarto lugar, faz-se mister assumir a responsabilidade pelo futuro do planeta e da vida. Somos os guardiães do ser. Hans Jonas exprimiu assim o princípo de responsabilidade:"aja de tal maneira que teus atos não sejam destrutivos da vida". Fourth,
Em quinto lugar, em vez da competição há que se reforçar o princípio de cooperação porque é a lei suprema do universo: todos os seres são interdependentes e se ajudam uns aos outros para co-evoluir, sem excluir os mais fracos. Fifth,
Se vivermos essa nova-velha moralidade mudaremos os comportamentos dos estados e das pessoas para com a natureza e assim nos salvaremos. Vale a frase de 1968 nos muros de Paris:"sejam realistas; exijam o impossível". Se vivermos essa nova-velha moralidade mudaremos os comportamentos dos estados e das pessoas para com a natureza e assim nos salvaremos. It is worth remembering the phrase written in 1968 on the walls of Paris: "Be realistic - demand the impossible".

It is particularly fitting to me that these thoughts should come from a Brazilian.

This by Mauro Santayana was in the Jornal do Brasil last night too.
04/12/2006
A tecnologia da morte
Mauro Santayana
 The technology of death
Com imagens de crianças sem olhos, sem braços, sem ouvidos, com a espinha dorsal dividida em duas, os membros atrofiados, o crânio piramidal, e relatos sobre recém-nascidos com os órgãos genitais na face, volta aos jornais europeus a denúncia contra o mais nefando dos terrorismos. São milhares de seres humanos e, enquanto viverem e continuarem a nascer, representam o libelo mais ácido contra os piores terroristas do século 20: os senhores norte-americanos da guerra. Trinta e um anos depois da derrota dos invasores na batalha final de Saigon, os efeitos da dioxina usada no desfolhante agente laranja continuam em região que compreende áreas do Vietnã, do Laos e do Camboja. Os resíduos se entranharam na terra e nas sementes das plantas, e os que as consumiram e consomem transmitiram e transmitem seus efeitos aos descendentes. 
Matéria de José Reinoso, o enviado de El País, de Madri, ao Vietnã - publicada sábado último - traz o depoimento seco, contundente, de médicos e dos pais de algumas dessas crianças. Um dos casais ouvidos teve todos os seis filhos horrivelmente deformados. 
A história do desfolhante laranja começa na Segunda Guerra Mundial, quando os encarregados das armas químicas sugeriram seu emprego maciço sobre os arrozais japoneses. Ao saber do projeto, que mataria os inimigos de fome, Roosevelt - vítima da paralisia infantil - horrorizado, vetou-o, mas Truman, ao substituí-lo, mandou jogar a bomba atômica sobre Hiroshima. Estimuladas pelo Pentágono, as maiores empresas químicas do país - tendo à frente a Monsanto e a Dow Chemical - passaram a pesquisar os efeitos do agente laranja contra os seres vivos, não só os da deformação genética, como também os da indução ao câncer. Em 1960 passaram a produzir para a guerra. Em novembro de 1961, o glorificado presidente Kennedy autorizou o uso do produto no Vietnã. 
Hoje, naquele país, além das crianças deformadas, a incidência do câncer de útero é 30 vezes maior do que no resto da Ásia. 
O Protocolo de 1925 - que integra os seculares acordos de Genebra sobre a conduta na guerra - proíbe rigorosamente o uso de armas químicas nas batalhas. A decisão foi tomada depois do emprego de gases mortais na Primeira Guerra Mundial. Mas, 20 anos depois, os nazistas, para o extermínio "limpo" dos judeus e outras etnias (incluída a "raça" dos comunistas) encomendaram à IG-Farben a produção do gás Zyklon B, usado em Auschwitz e em outros campos. 
É emblemático que a indústria química - essa tentativa de criar uma prótese da natureza, mediante materiais novos, alguns que beneficiam os homens e outros, que os eliminam e os deformam - tenha surgido há menos de 200 anos, na Alemanha, onde o Iluminismo encontrou a perversão política. 
Na liderança da civilização ocidental que começa a perecer submersa em nova barbárie, os Estados Unidos são os herdeiros da arrogância nazista. A IG-Farben - que nasceu para produzir anilinas - tem suas sucessoras na Monsanto e na Dow Chemical, orientadas pela mentalidade de que a morte pode ser o resultado de um processo técnico lucrativo, seja na produção da dioxina, ou dos transgênicos, obtidos mediante essa necrotecnologia que condena as sementes à morte, depois de duas ou três colheitas, a fim de que mantenham o monopólio de sua produção. Não lhes importa a possibilidade de que os transgênicos venham a matar os consumidores ou a condenar as almas das crianças a habitar corpos deformados nas próximas gerações. O que importa é o preço de suas ações, os dividendos aos acionistas e elevada remuneração de seus quadros executivos. 

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