domingo, julho 01, 2007

PCC / Marcola

See just this Post & Comments / 0 Comments so far / Post a Comment /   Home
Up, Down.
See Previous: Estatuto do PCC : Law of the PCC.

Monday August 20 2007

Turns out some people say Arnaldo Jabor wrote this thing - an imaginary interview. maybe so. References to Harper's Magazine of December 2006 which is not available.

Sunday July 1 2007

Marcola PCCThis is an old interview, May 2006, about the time that he was making biggish waves in São Paulo so some exaggeration is understandable, nuclear bombs in Ipanema and the like. The nut of his description is nonetheless correct, to me at least, even if the conclusions he draws are infantile.

"Percam todas as esperanças. Estamos todos no inferno."
Entrevista de Marcola do PCC
23/05/2006 - O Globo
 Interview with Marcola of the PCC
23/05/06 - O Globo
Você é do PCC?

Mais que isso, eu sou um sinal de novos tempos. Eu era pobre e invisível ... vocês nunca me olharam durante décadas ... E antigamente era mole resolver o problema da miséria ... O diagnóstico era óbvio: migração rural, desnível de renda, poucas favelas, ralas periferias ... A solução é que nunca vinha ... Que fizeram? Nada. O governo federal alguma vez alocou uma verba para nós? Nós só aparecíamos nos desabamentos no morro ou nas músicas românticas sobre a "beleza dos morros ao amanhecer", essas coisas ... Agora, estamos ricos com a multinacional do pó. E vocês estão morrendo de medo ... Nós somos o início tardio de vossa consciência social ...

Viu? Sou culto ... Leio Dante na prisão ...
 You are of the PCC?

But what is that, I am a sign of new times. I was poor and invisible ... you didn't look at me even once for decades ... And in the old days it was easy to fix the problem of misery ... The diagnosis was obvious: rural migration, inequality of income, few favellas, the edge of town was mostly empty ... The solution is what will never come ... What did you do? Nothing. Did the federal government ever allocate any budget to us? We only showed up when there was a landslide on the hill or in romantic music about the 'beauty of the hills before dawn,' those kinds of things ... Now we are rich with the multinational of cocaine. And you are dying of fear ... We are the late start of your social conscience ...

See? I am cultured ... I read Dante in prison ...
Mas ... a solução seria ...

Solução? Não há mais solução, cara ... A própria idéia de "solução" já é um erro. Já olhou o tamanho das 560 favelas do Rio? Já andou de helicóptero por cima da periferia de São Paulo? Solução como? Só viria com muitos bilhões de dólares gastos organizadamente, com um governante de alto nível, uma imensa vontade política, crescimento econômico, revolução na educação, urbanização geral; e tudo teria de ser sob a batuta quase que de uma "tirania esclarecida", que pulasse por cima da paralisia burocrática secular, que passasse por cima do Legislativo cúmplice (Ou você acha que os 287 sanguessugas vão agir? Se bobear, vão roubar até o PCC ...) e do Judiciário, que impede punições. Teria de haver uma reforma radical do processo penal do país, teria de haver comunicação e inteligência entre polícias municipais, estaduais e federais (nós fazemos até "conference calls" entre presídios ...) E tudo isso custaria bilhões de dólares e implicaria numa mudança psicossocial profunda na estrutura política do país. Ou seja: é impossível. Não há solução.
 But ... the solution would be ...

Solution? There is no more solution, man ... The very idea of a 'solution' is alredy an error. Have you seen the size of the 560 favelas in Rio? Have you taken a helicopter ride around the periphery of Sao Paulo? A solution how? It would only come with billions of dollars spent with organization, with huge political will in government at the highest level, economic growth, a revolution in education, overall urbanization; and it would all have to be under the baton of almost a 'virtual tyranny', who would jump over the paralysed secular bureaucracy, who would pass over the complicit Legislature (Or maybe you thing the 287 bloodsuckers are going to act? Unless I am mistaken they will rob even the PCC ...) and the Judiciary who impede punnishment. There would have to be a radical reform of the penal process of the country, there would have to be communication and intelligence between municipal, state and federal police (we do 'conference calls' between prisons ...) And all of this would cost billions of dollars and would imply a profound psycho-social change in the political structure of the country. That's to say, it's impossible. There is no solution.
Você não tem medo de morrer?

Vocês é que têm medo de morrer, eu não. Aliás, aqui na cadeia vocês não podem entrar e me matar ... mas eu posso mandar matar vocês lá fora ... Nós somos homens-bomba. Na favela tem cem mil homens-bomba ... Estamos no centro do Insolúvel, mesmo... Vocês no bem e eu no mal e, no meio, a fronteira da morte, a única fronteira. Já somos uma outra espécie, já somos outros bichos, diferentes de vocês. A morte para vocês é um drama cristão numa cama, no ataque do coração... A morte para nós é o presunto diário, desovado numa vala ... Vocês intelectuais não falavam em luta de classes, em "seja marginal, seja herói"? Pois é: chegamos, somos nós! Ha, ha ... Vocês nunca esperavam esses guerreiros do pó, né? Eu sou inteligente. Eu leio, li 3.000 livros e leio Dante ... mas meus soldados todos são estranhas anomalias do desenvolvimento torto desse país. Não há mais proletários, ou infelizes ou explorados. Há uma terceira coisa crescendo aí fora, cultivado na lama, se educando no absoluto analfabetismo, se diplomando nas cadeias, como um monstro Alien escondido nas brechas da cidade. Já surgiu uma nova linguagem. Vocês não ouvem as gravações feitas "com autorização da Justiça"? Pois é. É outra língua. Estamos diante de uma espécie de pós-miséria. Isso. A pós-miséria gera uma nova cultura assassina, ajudada pela tecnologia, satélites, celulares, internet, armas modernas. É a merda com chips, com megabytes. Meus comandados são uma mutação da espécie social, são fungos de um grande erro sujo.
 Are you afraid of dying?

You are the ones who are afraid of dying, not me. Besides, here in the cell you cannot come in and kill me ... but I can order that you be killed out there ... We are human bombs. In the favela there are a hundred thousand human bombs ... We are the centre of the Insoluble itself ... You are the good and I am the bad and, in between, the frontier of death, the only frontier. We are already another species, we are already other animals, different than you. Death for you is a christian drama in a bed, a heart attack, ... Death for us is daily meat, dumped in a ravine ... Didn't you intellectuals speak of a class struggle, of 'be marginal, be a hero?' Could be: we are arriving, it is us! Ha, ha ... You never expected these cocaine warriors did you? I am intelligent. I read, I have read 3,000 books and I read Dante ... but my soldiers are all strange anomalies of the broken development of this country. There is no more proletariat, or unhappy ones, or exploited ones. There is a third thing growing out there, growing in the mud, educated absolutely without any reading and writing, learning diplomacy in cells, like an Alien monster hidden in the cracks of the city. A new language has already grown up. Didn't you hear the wire taps made 'with the authorization of Justice?' Maybe so. It is another language. We are faced with a kind of post-misery. That's it. The post-misery generates a new culture of killing, aided by technology, satelites, celular telephones, internet, modern weapons. It is shit with chips, with megabytes. My commandos are a mutation of the social being, they are the fungus of a great big dirty mistake.
O que mudou nas periferias?

Grana. A gente hoje tem. Você acha que quem tem US$40 milhões como o Beira-Mar não manda? Com 40 milhões a prisão é um hotel, um escritório ... Qual a polícia que vai queimar essa mina de ouro, tá ligado? Nós somos uma empresa moderna, rica. Se funcionário vacila, é despedido e jogado no "microondas" ... ha, ha... Vocês são o Estado quebrado, dominado por incompetentes. Nós temos métodos ágeis de gestão. Vocês são lentos e burocráticos. Nós lutamos em terreno próprio. Vocês, em terra estranha. Nós não tememos a morte. Vocês morrem de medo. Nós somos bem armados. Vocês vão de três-oitão. Nós estamos no ataque. Vocês, na defesa. Vocês têm mania de humanismo. Nós somos cruéis, sem piedade. Vocês nos transformam em "superstars" do crime. Nós fazemos vocês de palhaços. Nós somos ajudados pela população das favelas, por medo ou por amor. Vocês são odiados. Vocês são regionais, provincianos. Nossas armas e produto vêm de fora, somos globais. Nós não esquecemos de vocês, são nossos fregueses. Vocês nos esquecem assim que passa o surto de violência.
 What changed at the edge of town?

Money. Tody we have it. You think that someone with 40 million dollars such as Beira-Mar doesn't give orders? With 40 million prison is a hotel, an office ... What policeman is going to burn this gold mine, do you understand? We are a modern company, rich. If an employee wavers he disappears and is thrown in the microwave ... ha, ha ... You are the broken State dominated by incompetents. We have agile methods of management. You are slow and bureaucratic. We fight on our own property; you, in a strange land. We are not afraid of death; you are dying of fright. We are well armed; you have 38's. We are on the attack; you are defending. You have a mania for humanism. We are cruel and without pity. You transform us into 'superstars' of crime. We make clowns out of you. The population of the favelas help us, out of fear or love. You are hated. You are regional, provincial. Our arms and products come from outside the country, we are global. We don't forget you, you are our customers. You forget us even in the midst of a surfeit of violence.
Mas o que devemos fazer?

Vou dar um toque, mesmo contra mim. Peguem os barões do pó! Tem deputado, senador, tem generais, tem até ex-presidentes do Paraguai nas paradas de cocaína e armas. Mas quem vai fazer isso? O Exército? Com que grana? Não tem dinheiro nem para o rancho dos recrutas ... O país está quebrado, sustentando um Estado morto a juros de 20% ao ano, e o Lula ainda aumenta os gastos públicos, empregando 40 mil picaretas. O Exército vai lutar contra o PCC e o CV? Estou lendo o Klausewitz, "Sobre a guerra". Não há perspectiva de êxito ... Nós somos formigas devoradoras, escondidas nas brechas... A gente já tem até foguete antitanques ... Se bobear, vão rolar uns Stingers aí ... Pra acabar com a gente, só jogando bomba atômica nas favelas ... Aliás, a gente acaba arranjando também "umazinha", daquelas bombas sujas mesmo ... Já pensou? Ipanema radioativa?
 But what should we do?

I'll give you a tip, even against myself. Arrest the barons of cocaine! There are Deputies, Senators, even Generals, even ex-Presidents of Paraguay in the parade of cocaine and arms. But who is going to do this? The army? With what money? You don't even have money to feed the recruits ... The country is broken, kept in a dead state with taxes of 20% per year, and Lula is still increasing public spending, employing 40 thousand loafers. The army is going to take on the PCC and the Commando Vermelho? I am reading Klausewitz, 'On War.' There is no exit strategy ... We are devouring ants, hidden in the cracks ... We even have anti-tank grenades ... Unless I am mistaken we are getting Stinger missles ... For an end with us, just throw an atomic bomb in the favelas ... Besides, we have just arranged for a 'big one', one of those dirty bombs ... Did you think of that? A radioactive Ipanema?
- Mas ... não haveria solução?

Vocês só podem chegar a algum sucesso se desistirem de defender a "normalidade". Não há mais normalidade alguma. Vocês precisam fazer uma autocrítica da própria incompetência. Mas vou ser franco ... na boa ... na moral ... Estamos todos no centro do Insolúvel. Só que nós vivemos dele e vocês ... não têm saída. Só a merda. E nós já trabalhamos dentro dela. Olha aqui, mano, não há solução. Sabem por quê? Porque vocês não entendem nem extensão do problema. Como escreveu o divino Dante: "Lasciate ogna speranza voi che entrate!" Percam todas as esperanças. "Estamos todos no inferno."
 But ... there will be no solution?

You will only begin to have some success if you give up defending 'normality.' There is no longer any such thing as normality. You have to recognize your own incompetence. But I will be frank ... the good ... the moral ... We are all at the centre of the Insoluble. Except that we are living in it and you ... have no way out. Only shit. And we are already working in it. Look here, my brother, there is no solution. Know why? Because you do not understand the extent of the problem. As the divine Dante wrote, 'Lasciate ogna speranza voi che entrate!' - 'We have all lost hope. We are all in hell.'

Tags: , , , , .
Down.